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domingo, 11 de dezembro de 2011

História da química orgânica Brasileira

Caros amigos e "ávidos" leitores, desculpe ausência aqui no blog... Muitos afazeres... mas agora tomarei vergonha na cara e voltarei a ativa!
Aquele velho clichê de conhecer o passado para entender o presente e mudar o futuro parece piegas mas é a mais pura verdade. Vivemos em um país de memória curta, e toda e qualquer iniciativa de resgate do passado é bem vinda, principalmente em se tratando de ciência.
Poucos são os que se aventuram nessa empreitada, muitas vezes por falta de tempo e não por falta de vontade.
Prof. Paulo R.R. Costa
Meu ex-orientador e amigo o Prof. Paulo Costa, encarou esse desafio e produziu um documentário sensacional a respeito dos primórdios da química orgânica carioca que tomei a liberdade de estender para a química orgânica brasileira.
Descobri por um acaso fuçando o portal de fármacos da UFRJ, O que é uma pena, acho que deveria ser mais divulgado, eis o motivo deste post!
O documentário conta com depoimentos descontraídos de personagens que iniciaram a aventura de iniciar esta ciência em um país tropical chamado Brasil.
Abaixo segue a entrevista feita com o Prof. Paulo no portal de fármacos-UFRJ e os links para os vídeos.

Extraído do portal de fármacos-UFRJ, por Por Arthur Prado

"HISTÓRIA DA QUÍMICA BRASILEIRA IMORTALIZADA EM IMAGENS
A iniciativa é de um professor da UFRJ, que há mais de 15 anos, começou a registrar a história da Química fluminense em vídeo


Toda história tem seus personagens, seus conflitos e seus triunfos. Como toda boa história que se preze, a longa trajetória da Química Orgânica, ciência fundamental em diversas vertentes da vida humana, merecia um registro mais vivo possível. Pensando nisso, Paulo Roberto Ribeiro Costa, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), resolveu inovar no modo de registrar a história da Química Orgânica no Rio de Janeiro, produzindo documentários com depoimentos dos personagens que construíram essa história.

O documentário “Personagens da Química do Rio de Janeiro: As origens da Química Orgânica Carioca”, produzido pelo Prof. Paulo Costa e exibido na abertura do XIII Encontro Regional de Química da SBQRio, traz raras imagens e depoimentos inéditos  de grandes nomes da Química Orgânica brasileira. Durante o documentário, esses protagonistas contam sobre suas trajetórias na Química fluminense e, juntos, reconstroem essa história.

O professor da UFRJ, porém, o não quer parar por aí. Ele já tem um projeto em parceria com a Sociedade Brasileira de Química (SBQ) e com a sua regional no Rio de Janeiro (SBQ-Rio) para a construção do site “Memórias da Química”. O site tem como objetivo congregar diversos tipos de registros documentais sobre a história da Química no Brasil. Assim, fotos, artigos, vídeos, ficariam registrados e concentrados em um só lugar para consulta de qualquer um que queira pesquisar.

O incansável pesquisador diz também já ter sido procurado por outros núcleos, como o da  PUC e da UFRRJ. Professores dos núcleos de Química dessas universidades também estariam interessados em fazer um registro semelhante com as suas áreas de militância. Como projeto principal e mais imediato no momento, Paulo também conta que gostaria de fazer um documentário sobre a História da Química Medicinal no Rio de Janeiro, que, segundo ele, é bem peculiar e merece um registro atencioso. 

O Portal dos Fármacos foi se encontrar com o professor Paulo Costa,  em sua sala no Núcleo de Pesquisa de Produtos Naturais (NPPN), no Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFRJ, localizado na Ilha do Fundão. Na entrevista, ele nos contou um pouco mais sobre esses projetos e iniciativas futuras. 

ENTREVISTA EXCLUSIVA PORTAL DOS FÁRMACOS

Portal: Como surgiu a idéia de documentar essa história da Química Orgânica no Rio de Janeiro e por que o senhor o fez em audiovisual?

Paulo Costa: A idéia de documentar a história da Química Orgânica tem seu marco inicial na comemoração dos 30 anos do NPPN (Núcleo de Pesquisa de Produtos Naturais), em 1993. Por essa ocasião, eu havia observado que você pode encontrar na literatura uma série de artigos, entrevistas, mas muito pouco material em vídeo e poucas fotografias. Em um artigo, o autor elabora, coloca as melhores frases, dá a melhor racionalidade possível. Em uma entrevista ao vivo, já flui mais, é mais natural, mexe com as lembranças e com a maneira que cada um vivenciou aquilo. Então, obviamente, nós não queremos fazer em vídeo uma história do que já está escrito e simplesmente dar um enfoque que mais raramente está colocado nesse material. Procuramos trabalhar mais com a emoção.


Portal: Sua esposa é jornalista, certo? Ela ajudou o senhor nessa empreitada?

Paulo Costa:  Na ocasião do primeiro vídeo, sobre a comemoração dos 30 anos do NPPN, a minha esposa tinha recém-formado em jornalismo e estava bastante ligada a área audiovisual. Então, através do auxilio dela foi mais fácil transitar nessa área do vídeo. A Letícia gostou da idéia e fizemos esse documentário da Química do Rio de Janeiro em vídeo. Levantamos a história das pessoas, o que existe de já divulgado e procuramos montar juntos um roteiro.  Depois organizamos as filmagens e a edição. Ela participou de todo o processo de produção do documentário. Minha participação é focada na elaboração do roteiro porque tenho os dados históricos e junto com as coisas que me lembro. Da outra parte quem toma conta é ela. A Letícia, que é jornalista, organiza porque o cientista gosta de falar com palavras complicadas, então ela vai colocando uma dinâmica diferente no material, coisa que eu não conseguiria fazer. .


Portal: Como foi o método de construção do documentário “Personagens da Química do Rio de Janeiro?

Paulo Costa: O documentário trata da trajetória científica do Prof. Gilbert, do Prof. Kover e do Prof. Cláudio Costa Neto,  pessoas que eu tinha bastante intimidade, pois fui aluno dos três. A minha proposta foi nos reunir, sem muitas coisas pré-determinadas, e deixar eles bem à vontade. Eu tinha uns pontos assinalados sobre coisas que gostaria que eles falassem. Infelizmente, nesse primeiro encontro, que levou cerca de 4 horas, e foi feito na casa do Prof. Gilbert, só estavam presentes o próprio Gilbert e o Prof. Kover, o Cláudio não pôde ir. Depois o Cláudio foi à minha casa, passou umas duas horas lá, e nós fizemos o material com ele.  Montamos o documentário de uma maneira bem espontânea. Deu mais trabalho na montagem porque, talvez se tivéssemos uma fórmula pronta, já iríamos encaixando as coisas. Mas foi bem interessante porque o caminho que eles tomaram na discussão levou à formação do roteiro. Foi feito da maneira contrária. Depois que pegamos todo o material, reformulamos e adaptamos o roteiro.


Portal: O senhor escolheu cientistas renomados como o Prof. Benjamin Gilbert, o Prof. Bruce Kover e o Prof. Cláudio Costa Neto para dar depoimentos. Por que esses cientistas?

Paulo Costa: Bom, esse ponto é bastante delicado. Eu gostaria de dizer que além do Gilbert, do Kover e do Cláudio Costa Neto, é feita também uma homenagem ao Walter Mors. Eu tinha um material dele gravado na época do NPPN e resolvi incluir no documentário porque ele seria um quarto nome, mas está falecido. Então foi uma homenagem póstuma.  Procurei observar quais foram aqueles pesquisadores que tinham feito trabalhos seminais e que tinham iniciado ”escolas” a partir da sua intervenção. O Cláudio Costa Neto era professor recém empossado quando o Instituto de Química é criado, é o primeiro coordenador de pós-graduação em Química. Ele traz professores estrangeiros para o Instituto de Química e contribui de uma maneira crucial nas áreas de química analítica. É um sujeito que teve uma influência muito grande nos seus pares nesse viés.

O Bruce Kover foi o primeiro estrangeiro que veio para o IQ, a convite do Cláudio. Bruce era recém doutor. Então, como o Gilbert já estava no NPPN, o Cláudio quis fazer uma coisa semelhante e consegue, por meio do contato do professor Barnes, que tinha amigos nos EUA, descobrir que tinha um cara muito bom, recém doutor, que topava vir. Então ele vem e estabelece no IQ a escola da físico-química orgânica. Quer dizer, tudo que se faz de físico-Química Orgânica no Rio de Janeiro, principalmente na parte de mecanismos de reação, tem a semente do Kover.

Mas, antes que o Kover chegasse aqui, o Gilbert já tinha vindo para o NPPN. Benjamin Gilbert chega ao Brasil, se não me engano, em 1958 mais ou menos, e começa uma parceria com o Prof. Walter Mors em produtos naturais. O Gilbert chega no Brasil e  ficou encantado com aquele estado todo, apesar das condições de trabalho não serem muito propícias. Depois do fechamento do IQA, ele vai para a Faculdade de Farmácia na Praia Vermelha , aonde monta junto com outros professores – esta história está bem vinculada no vídeo – o Centro de Pesquisa de Produtos Naturais, que depois veio para o Fundão, fica aqui no prédio da bio-quimica e depois se torna o Núcleo de Pesquisa de Produtos Naturais (NPPN).
Então esses três foram escolhidos e mais o Walter Mors, que foi colocado como homenagem póstuma, pois eles tiveram uma importância muito grande na Química fluminense e a nível nacional também. Então, como não podia fazer um vídeo com alguma coerência botando dez, doze nomes que poderiam entrar nessa lista, tentei me fixar naqueles caras que realmente foram a base. Eles chegaram, não tinha nada, e a partir deles a coisa evoluiu.
Da esquerda para direita: Prof. Walter Mors (falecido) e Prof. Benjamin Gilbert em 2006;
Prof. Cláudio Costa Neto; Prof. Warner Bruce Kover:
Grandes nomes da Química retratados no documentário
Portal: Qual o principal objetivo desse projeto?
Paulo Costa:  O principal objetivo é registrar a história da Química Fluminense em material audiovisual. Um artigo tem uma característica formal, já uma entrevista ao vivo, filmada, traz informações e climas diferentes. A mistura de mídias é enriquecedora. Eu sempre tive essa vontade de juntar as mídias. Acho que a geração mais nova, que é muito internet, talvez seja atraída por esses documentários e depois tenha vontade de ler sobre os temas. Isso é estimulante. Acho que poderia popularizar a história da Química, porque o cara vê um vídeo de trinta, trinta e cinco minutos e, por mais que ele decida ficar por aquilo mesmo, já ganhou algum conhecimento. Caso ele se interesse, existe muito material para que depois possa consultar. Estimular as novas gerações também é um objetivo dessa iniciativa.


Portal: O que o senhor almeja, no futuro, com esse projeto?

Paulo Costa:  Nesse último documentário, em que tentamos retratar a história do Gilbert, do Kover e do Cláudio Costa Neto,  já tínhamos em mente a idéia de criar um site que pudesse congregar memórias da Química brasileira. Em breve o site será lançado. O seu objetivo é reunir artigos, entrevistas, fotografias e vídeos que contenham a história da Química brasileira. Espero que ele possa servir, vamos dizer, de germe para criação de outros núcleos. Espero que outros professores, de outras unidades, mobilizem-se e entrem em contato com suas respectivas áreas de comunicação e façam coisas semelhantes.



Portal: Qual a importância dessa iniciativa para o público leigo?

Paulo Costa: Acho bem mais fácil para o público leigo entender a Química em uma linguagem menos formal. A linguagem da Química é muito cifrada, extremamente difícil. Você tem que dar voltas para poder falar de Química com os “não-quimicos”, vamos dizer assim. Até com as pessoas da área de biomédica nós temos que ter um certo cuidado. Enquanto as coisas escritas estão um pouco mais tendendo pra parte técnica, esse material dos vídeos, raramente, aborda coisas a nível cientifico, não é o foco. Ele toca no como a pesquisa é feita sem usar muitos jargões da academia que não seriam acessíveis a um público mais leigo.



Você pode conferir o documentário “Personagens da Química do Rio de Janeiro: As origens da Química Orgânica Carioca” no youtube. A película está dividida em três partes."

Parte 1

Parte 2

Parte 3



Aproveito para parabenizar o trabalho da Letícia, ficou muito caprichado e a o apoio da SBQ e SBQ-Rio. Quem tiver curiosidade de ver outros depoimentos bastante interessantes, pode encontrá-los aqui.

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