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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Caramboxina, toxina "made in Brasil"

Deu na Angewandte Chemie International,

Pesquisadores da USP isolaram e caracterizaram uma toxina presente na carambola que pode ser fatal para portadores de doenças renais. A substância relacionada com o aminoácido fenilalanina foi batizada de caramboxina. O trabalho estampou a capa da importantíssima publicação na área de química Angewandte Chemie International volume 125, n° 49.
Caramboxina, seu análogo cíclico e o Aminoácido Fenilalanina
O trabalho multidisciplinar, facilmente identificado pela quantidade autores, teve início em 1998 e os primeiros resultados surgiram no início dos anos 2000, segundo a revista pesquisa FAPESP, e contou com a soma de esforços de nefrologistas clínicos, neurocientista e químicos de produtos naturais farmacologistas e químicos sintéticos.
A caramboxina em solução aquosa e a temperatura ambiente sofre ciclização para seu derivado cíclico, com a perda de sua atividade biológica. O derivado cíclico foi preparado em 2012 (Tetrahedron LettersVolume 53, N° 29, 2012, 3808) pelo grupo do professor Luis Fernando da Silva Jr do IQ-USP, onde a etapa chave foi uma sequência de Diels–Alder/retro- Diels–Alder a partir da dimedona.

Síntese do análogo cíclico da Caramboxina
O trabalho abre possibilidades para ajudar na criação de  ferramentas para estudos de processos de excitabilidade e neurodegeneração do sistema nervoso ou mesmo para a produção de moléculas relacionadas
Faço votos que posts como este tornem-se cada vez mais comum aqui e que um dia publicar em revistas como esta seja mais frequente para comunidade química brasileira. 

Ciência Brasileira segundo a editora-chefe da Science

Deu no Estadão:

por Herton Escobar / O Estado de S. Paulo

A ciência brasileira precisa ser mais corajosa e mais ousada se quiser crescer em relevância no cenário internacional, segundo a editora-chefe da revista Science, Marcia McNutt. Para criar essa coragem, diz ela, é preciso aprender a correr riscos, e aceitar a possibilidade de fracasso como um elemento intrínseco do processo científico.
Dra. Marcia McNutt

“Quando as pessoas são penalizadas pelo fracasso, ou são ensinadas que fracassar não é um resultado aceitável, elas deixam de arriscar.” E quem não arrisca, diz ela, não produz grandes descobertas – produz apenas ciência incremental, de baixo impacto, que é o perfil geral da ciência brasileira atualmente. O que ajuda a explicar porque os pesquisadores brasileiros têm dificuldade ainda para emplacar trabalhos em revistas de alto impacto, como a Science, apesar do grande avanço no número de trabalhos científicos publicados pelo País em revistas indexadas nas últimas décadas.
Marcia conversou com o Estado entre uma sessão e outra do Fórum Mundial de Ciência, que terminou quarta-feira (dia 27) no Rio de Janeiro, na primeira vez que o evento bianual foi realizado fora da Hungria, seu país de origem. Geofísica de formação, ela assumiu a editoria da Science (uma das revistas científicas de maior impacto no mundo) em junho deste ano. Antes disso, Marcia foi diretora do Serviço Geológico dos Estados Unidos (cabendo a ela, por exemplo, responder a desastres como o vazamento de óleo da plataforma Deep Horizon, no Golfo do México, em 2010) e do Instituto de Pesquisas do Aquário de Monterey Bay, na Califórnia, uma das principais instituições de pesquisa oceanográfica e exploração de águas profundas no mundo.
Abaixo, os principais trechos da entrevista:

O que os cientistas brasileiros precisam fazer para conseguir publicar mais trabalhos em revistas de grande impacto, como a Science?

A mesma coisa que todo mundo faz. A Science só publica uma fração muita pequena, em torno de 5%, dos trabalhos que são submetidos à revista; então, é um desafio para qualquer cientista. O que eu costumo dizer aos autores é que nem todo trabalho científico é adequado para publicação na Science. Antes de qualquer coisa, o trabalho tem de ser original e revolucionário (“groundbreaking”) dentro de sua própria área, mas também tem de ser interessante para outras áreas do conhecimento, para que se justifique publicá-lo na Science em vez de uma revista temática especializada. Tem de haver ramificações para outras áreas do conhecimento.
Uma autocrítica que é feita com frequência pela comunidade científica brasileira é que a nossa cultura científica e nosso sistema acadêmico estimulam as pessoas a publicar trabalhos mais simples e “seguros”, no sentido de garantir resultados para uma publicação ao final de cada projeto ou cada bolsa. Os cientistas têm medo de se arriscar em projetos mais complexos porque, no final das contas, são julgados mais pelo número de trabalhos que publicam do que pela qualidade ou relevância de suas publicações. E é por isso que o Brasil até hoje não ganhou um prêmio Nobel e tem dificuldade para publicar trabalhos em revistas de alto impacto, etc …
Eu diria que esse argumento está totalmente correto. Esse tipo de estratégia não produz grandes resultados científicos; é uma estratégia segura, incremental, que vai avançar a ciência do país pouco a pouco, mas não vai influenciar radicalmente o panorama da ciência num contexto global, porque é muito conservadora, não é ousada.

É possível ser ousado com pouco dinheiro?

Não dá para colocar um preço em ousadia. É mais um estado de espírito, uma forma de questionar, elaborar perguntas e conduzir seus experimentos. Você pode gastar muito dinheiro num trabalho puramente incremental, ou pode gastar pouco dinheiro para fazer um experimento revolucionário. A ousadia pode vir também na maneira como você trabalha de forma integrada em diferentes áreas. Por exemplo, um aluno de bioquímica pode escolher fazer alguns cursos em engenharia e física, e graças a essa proficiência adquirida em diferentes disciplinas ele será capaz de juntar ideias, enxergar conexões e elaborar perguntas que outros alunos não conseguem fazer.

Como é que se cultiva essa ousadia?

Ser ousado implica em assumir riscos, e assumir riscos implica em aceitar a possibilidade de fracasso. Quando as pessoas são penalizadas pelo fracasso, ou são ensinadas que fracassar não é um resultado aceitável, elas deixam de arriscar. É importante que a sociedade reconheça o valor de pessoas que falharam uma vez, falharam de novo, e talvez de novo, até chegarem ao sucesso. Porque há milhões de maneiras de se fracassar; sempre vai haver um meio de a tecnologia falhar ou de o ser humano falhar.

Então as instituições e as agências de fomento têm de aceitar o fracasso como um componente intrínseco do processo de pesquisa?

É assim que a ciência avança! Você apresenta suas ideias e os outros tentam derrubá-las. É só porque somos capazes de descartar hipóteses que sabemos que algo está errado e que outra coisa deve estar certa. É muito fácil provar que uma hipótese científica está errada, mas é muito difícil – quase impossível – provar que uma hipótese está correta. Tudo que podemos fazer é dizer que uma hipótese está em concordância com os dados disponíveis – as que não estiverem, a gente joga fora, e vamos procurar alguma outra que esteja. Dizer que algo foi efetivamente “provado correto” é muito, muito difícil. O fracasso, portanto, é um componente importante do avanço da ciência, porque mostrar que algo está errado faz parte do processo científico de determinar o que está certo.
E como trabalhar isso dentro da academia? Um dos problemas aqui é que os jovens pesquisadores, alunos de pós-graduação, têm obrigação de publicar alguma coisa ao final de seu mestrado ou doutorado … pode não ser um resultado muito relevante, mas tem de ser um resultado publicável; qualquer coisa. Caso contrário, fim de carreira. Por isso ninguém se arrisca a fazer projetos mais ambiciosos, em que não há certeza de um resultado positivo.
É importante que os mentores (orientadores) ajudem os jovens pesquisadores a avaliar quando vale a pena arriscar, e que tipo de risco vale a pena correr. Você não quer que alguém invista cinco anos numa pesquisa de doutorado e não tenha uma publicação no final para defender sua tese. Isso não é bom. O que você quer é que eles comecem a assumir pequenos riscos ao longo da pós-graduação, de modo que eles aprendam com essa experiência e se sintam confiantes para assumir riscos maiores no futuro – sabendo que um experimento pode não dar certo no final, e que isso faz parte da ciência.

Opinião (ninguém perguntou mas darei assim mesmo)

A opinião da Dra Marcia McNutt é precisa, e ela disse o que todo mundo já sabe. Razões para isso acontecer? Várias, começando pelo tipo de financiamento/avaliação que favorece a numerologia, tendência que dizem está mudando nos últimos tempos... dizem...  A ousadia definitivamente não é vista com bons olhos (na média obviamente). Temos também outros problemas de ordem estrutural, que devem ser sim levados em consideração, mas não devem servir de desculpas para ao menos não tentarmos sair as vezes da zona de conforto dos "trabalhos garantidos".
Publicação de alto impacto é semelhante a investimento na bolsa de valores, quanto mais arriscado maior o lucro, simples assim. Mas quem está disposto a arriscar? E será que é possível mudar? Talvez seja. Eu tenho esperança, afinal, ela é sempre a última que morre... 
Mas como dizia um velho professor, já falecido, que admirava bastante: "Há muito tempo deixamos de fazer ciência para fazer papers..." Aí caro leitor, fica difícil!
Mas além do problema apontado, corretamente, um outro fato que nunca seria mencionado é o clubinho dos frequentadores destas revistas. Fica a pergunta: Será que artigos que vêm das terras ao sul do equador são "olhados" da mesma maneira? Será? Talvez sejam... só talvez.